Este ano fiz um Portfólio que abrange minhas realizações desde 1989, ano de meu nascimento, até 2015. Nele estão desenhos que realizei quando criança, minha assinatura em 1997, uma carta que recebi do programa Daniel Azulay em 1999 por enviar um desenho ao seu endereço, as primeiras fotografias que realizei, em 1998, durante uma excursão com minha turma da Escola Municipal João Marques dos Reis ao Jardim Botânico, pinturas e desenhos que realizei no software paint em 2006 e 2007, uma série de imagens que criei com o primeiro scanner que comprei em 2009, desenhos realizados, durante meus expedientes de trabalho, com caneta esferográfica e grafite sobre papéis provenientes das bobinas das impressoras fiscais que eu consertei de 2008 até 2010, ano em que pedi demissão e comecei minha relação com o ensino superior em artes, pinturas ruins, fotos das bandas em que toquei, trabalhos de arte e outros gestos dos quais me orgulhei, donde ficou ainda mais claro que não criava um Portfólio como esse num sentido trocadilhesco/irônico ou para apresentar, em um sentido evolutivo, o que até então considerava trabalho ou minha capacidade de trabalhar como artista, mas para desestabilizar o que para mim era minha singularidade, meu pensamento. Ao colocar lado a lado tudo o que considero que fiz, descubro que sou índice das relações sociais que me permeiam, que sou produtor no campo simbólico – tal qual um artista profissional – desde 1989 (com minha certidão de nascimento) e que sou, por sua vez, um amador – i.e., uma criança, um animal, uma molécula6 – nas coisas que fiz das quais mais me orgulho.
Dessa maneira, ainda esse ano abandonei a produção deste Portfólio, com o intuito de tornar indissociáveis da concepção do que irei fazer da minha vida até então a construção de sua própria visibilidade7, prescindindo assim dos lugares de exposição comum para artistas – galerias, publicações, espaços expositivos… – e dos mecanismos de se possibilitar enquanto tal no mundo – editais, seleções e, evidentemente, portfólios -.
Minha primeira frente criada para isto é esse blog, chamado Processofólio (nome que é sinônimo de Portfólio, presente e recorrente em alguns textos sobre educação que li há algum tempo)8, assim como a criação de lugares vazios pela compra de ingressos para não serem utilizados e o envio de mensagens para destinatários desconhecidos já guardam em si suas condições de visibilidade, sem necessitar de outro modo de lhes dar a ver para o mundo. A vocação de todas as coisas é não serem vistas por todas as pessoas. Tenho me ancorado nesse tipo de sentença para respirar com mais calma e produzir e viver produtivamente somente para alguns. Ouvi uma vez a frase “você não vai ver tudo”9. Obrigado, Diana. Se me lembro bem foi você que falou isso. Sigo pensando nisso.