Hoje estou pensando em como usar este Processofólio. Ia postar um registro de algo que fiz aqui quando percebi que tanto isto que fiz não precisa de outra visibilidade para além da que ele mesmo cria quanto que um Processofólio, definitivamente, não funciona como um Portfólio ou um site de artista ou mesmo um arquivo. A visibilidade não é uma questão principal num Processofólio, mas sim sua possibilidade de contribuir para a construção de um processo. Ou ainda, na melhor das articulações entre esses enunciados, um Processofólio seria onde, a um só tempo, se faz visível e se constrói um processo.

Neste momento percebo que não sei ainda usar esta ferramenta. O que aponta um período de transição na minha relação epistemológica com minhas práticas na vida. Talvez este seja um espaço dum diário, tal qual outras pessoas usam para registrar suas relações e práticas na vida. Talvez seja um trabalho de arte dentro da complexa rede de enunciações sobre mim que começa a se construir através do http://cargocollective.com/jandirjr, site criado a partir do embate crítico com o ambiente de exibição e de ascensão profissional no campo das artes visuais/contemporâneas/plásticas. Entrei na universidade em 2010 e tive contato com esse lugar de produção simbólica nas artes visuais buscando mediar e me fazer presente ali em toda as minhas demandas: não só profissionais, mas políticas, afetivas, psicológicas… Olho para tudo isso em retrospecto nesses dias e penso que não sei se ser um profissional foi meu objetivo desde sempre ao entrar numa universidade.10 O status de mudança social e de perspectiva de outro modo de vida, para além de um incremento econômico, foram mais impactantes para mim mais que a possibilidade de mudar de classe social, de entrar numa classe média, num lugar profissional distinto. Contudo, confesso que a possibilidade de me tornar um artista distinto dos que produziam nas periferias e lugares menores que eu estava mais próximo11 era algo que me seduzia. Mas hoje isso mudou e, justamente nessa relação de distinção, não vejo mais interesse para o que pretendo fazer daqui para a frente. Preciso de feituras que convoquem suas próprias visibilidades. Preciso discutir como pessoas e artistas podem, para além de produzir e viver, prescindir de mecanismos, coligações e modos tradicionais que os exibam para outros. Nisso, pergunta-se: que outros? Que exibição? Que circuito? Que extrato social?

Como não mudar o mundo?