Em 30 de novembro de 2015 08:33, Jandir Jr. <jandir.s.junior@gmail.com> escreveu:

Oi, Michelle, Daniel,

Gostaria de propor uma vivência coletiva da qual participo desde 2013.

O MAD é um grupo em que se encontram mais frequentemente eu, Aline Besouro, Max William e Daniel Santiso, mas que, pela natureza de sua ação, não possui definição estanque de quem o integra.

Através da utilização de tecidos e elos diversos são criadas formas de se estar junto, em muito mantidas através de caminhadas, amarrações, carregamentos de uns aos outros, tensionamento entre esses corpos e interferências urbanas/em grande escala.

Como não há separação definida entre os procedimentos de trabalho no MAD – fato que constitui o grupo enquanto work in progress: ao invés de se encontrar nele uma série de opções de trabalhos/performances, o grupo mesmo, em inteireza, é o trabalho/performance – me chamou a atenção a correlação entre essa característica e os Domingos de Criação, eventos estimulados por Frederico Morais, então diretor do MAM na década de 70, que aconteceram nos jardins do Aterro do Flamengo a partir de proposições abertas a partir de elementos como a terra, o papel, etc. Na entrevista que hiperlinkei acima, Frederico Morais diz:

Ora, o Aterro do Flamengo, projetado por Burle Marx, é uma das maiores áreas de lazer do Rio de Janeiro e a área externa do MAM ainda é passagem para as pessoas que, oriundas de bairros limítrofes ou do entorno do Centro do Rio de Janeiro, se dirigem às praias do Flamengo e Botafogo. E Afonso Eduardo Reidy, ao projetar o belo prédio do MAM, procurou adequá-lo à horizontalidade do Aterro e à própria paisagem do Rio. O MAM tem muito lá fora: o pátio, os jardins de pedra e o de palmeiras imperiais, o terraço de onde se contempla o Pão de Açúcar, o Monumento dos Pracinhas, o Outeiro da Glória, o mar e as montanhas. E isto não estava sendo aproveitado e integrado às suas atividades criativas. Por isso, porque me via pensando o MAM não como parte do Aterro, mas este como uma espécie de extensão do MAM, realizei os Domingos da Criação, definidos por mim como manifestações de livre criatividade com novos materiais.

Lendo o texto Parque do Flamengo: instrumento de planificação e resistência, escrito por Ana Rosa de Oliveira e enviado por vocês, ainda encontrei:

A idéia do parque também levava implícito o projeto de criar um “parque vivo”. […] Sugeria também que se evitasse sobrecarregar o espaço do parque com equipamentos. Pelo contrário, buscou a criação de muitas áreas sem atividades pré-definidas para que os usuários, especialmente as crianças pudessem sentir-se livres.

Nessa imbricação entre a intenção de realizar atividades sem pré-definição nos parques do Flamengo e as manifestações de livre criatividade a partir de certos materiais nos Domingos de Criação, encontrei o estímulo necessário para entender que o MAD era a proposição devida a este evento.

Por fim, deixo como registros e apresentação dois links, um de nossa página de registros no Flickr e um outro com fotografias de um dos eventos em que participamos, o Novas Poéticas, em 2014. Além destes, copio abaixo um pequeno texto escrito pelo Max, fechando este e-mail. Manifesto minha gratidão pelas aulas e aproveito para deixar claro que, se prefiro propor este trabalho coletivo aqui ao invés de uma proposição em que eu assine, é em muito estimulado a pensar onde, ao propor algo enquanto artista/produtor simbólico/etc., posso perder as dimensões do meu eu e conjugar sem medo a primeira pessoa do plural, intenção que encontrou reverberação nas suas aulas. Por isso, obrigado.

MAd
Amarrações com uma ou mais pessoas sem escala definida com tecido ou não.

O corpo que se aproxima em nós se perde.
Um percurso de vínculo e esgarçamento: um para ser dois e dois mais dois se  imantarem em cinco.
Chamada também de conexão essa ação de vida.
Pausar – Respirar – Perder. Nem sempre o corpo que cresce se aguenta.
Desejamos  o crescer menor. Bem menor o começo dentro. Dobrar.
Contínuo alguém sai, entra e quatro mais quatro viram 7 e a sensação de leveza e peso é tão tênue qual barulho do outro vindo a ser recanto e ruína: em vista que o desejo de abrigo ultrapassa escolhas estrurais.
Perguntamos: quer participar?
Estamos às cegas à procura de encontros.
Se já temos decretada a perda do corpo, desde qualquer origem, no mundo, vivemos pela estranha forma de sentir o terreno.

 

(e-mail enviado em resposta ao convite de Michelle Sommer e Daniel Steegmann Mangrané para que eu desenvolvesse uma proposta à exposição Vaga-lumes, que se deu no final do ano passado. Por fim, a participação do MAD neste evento não se concretizou.)