- Encontro perdidos nas ruas endereços anotados em papéis.
- Os ponho em envelopes destinados aos destinatários que carregam e, com meu endereço e nome em remetente, envio-os por correios.
- Após isso, expecto.
(Um dia, um senhor foi de sua casa – em um bairro distante – até a minha de bicicleta. Eu não estava em casa e minha mãe foi quem o atendeu. Não o conhecíamos. Ele disse estar preocupado: recebera um envelope com meu nome e endereço, destinado a ele, contendo um papel pequeno com seu próprio endereço anotado. Não sabia o que era aquilo, se estavam usando o nome dele pra lavar dinheiro, se ele tinha virado laranja de algo que nem sabia. Foi quando minha mãe disse que provavelmente eu tinha feito aquilo. – Mas por quê? – Ah, ele faz essas coisas. Liga não. – ela respondeu. Imagino seu rosto confuso ao ouvir essa resposta, e a situação de minha mãe dizendo isso ao homem. Bem, após esse ocorrido deixei de fazer este trabalho: julguei que estava lidando com as relações humanas de maneira torpe, desleixada, como se fossem uma matéria qualquer, não-senciente, a ser manipulada: tinta, mármore, qualquer coisa dessas. Os artistas ativistas, relacionais, que lidam na alteridade, lançam mão disso a todo momento, pelo que vejo, e mesmo sem desejarem fazer isso. Na mão do artístico, o ‘outro’ é matéria a ser burilada, muito mais do que aquele que motiva a condição inescapável de conjugarmos o ‘nós’. O artista não conjuga o nós: assina sozinho. Mas eu não quero ser um deles; nem pela hipocrisia sobre o que fazemos, nem pela inocência sobre o que é realmente estar junto, nem pela vilania com os outros )