Muitos desses projetos fundamentais para os anos 70 foram ações e situações efêmeras, que só existem hoje como registros. A fotografia, os filmes Super-8 e 16mm e, posteriormente, o vídeo ocupam aqui lugar privilegiado. Há certa intenção de permanência de algo que definitivamente escapa. Essa presença ausente é o que caracteriza a produção dos anos 70
FREIRE, C. O presente-ausente da arte dos anos 70. In: Anos 70 trajetórias Iluminuras. São Paulo: Itaú Cultural, 2005. Disponível em <http://www.mac.usp.br/mac/1963GEACC/textos/014.pdf>
(Penso Dar minhas ideias para os desconhecidos. em algo próximo dessa presença ausente na produção dos anos 70. O diferencia, neste caso, não ser referente de uma “situação efêmera”, mas ser relativo a um caderno, o qual tem suas condições de durabilidade num tempo maior em comparação às produções estudadas por Cristina Freire. Ressalvado isto, sua presença ausente se faz em, sendo um caderno de trabalho que somente existia na minha bolsa e, agora, no fundo da minha gaveta, estar reproduzido numa publicação que o reproduz precariamente ao não buscar mimetiza-lo tal qual fac-símile e nem nublar a maneira como sua imagem foi transferida à ela através de um scanner. Potencialmente, esta publicação retornará ao seu leitor o fato de não estar frente ao caderno que ela reproduz. Seu título, Dar minhas ideias para os desconhecidos., uma das sentenças imperativas anotadas no caderno, é a síntese de sua pretensão: entendendo cumprir esta frase, canibaliza-a enquanto título para dar a entender que não pretende ser o caderno em si, tampouco sua reprodução. (Apesar de ser esta presença ausente de que falei até aqui, a é por acidente.) Sua única pretensão é dar aquelas ideias, até então somente anotadas num caderno, aos desconhecidos, que não são outros que não o público, unidade abstrata, primeiríssima invenção dos artistas e dos etc.20)