Jandir Jr. <mailexpressivo@gmail.com>                    10 de maio de 2016 06:46
Para: Renato Gadioli <renato.gadioli@gmail.com>

Oi, Renato,

cara, um grupo do qual participo está organizando uma exposição para acontecer neste sábado, dia 14, no Juscelino Kubitschek, escola onde você estudou, onde você me levou na caminhada mais perrengue da minha vida e onde está atualmente ocupado por em torno de 30 estudantes (nesse movimento de ocupações de escolas pelo Rio de Janeiro).

Queria te fazer um convite: que você escrevesse uma carta para esses estudantes e para a JK, contando sua história e falando o que você gostaria de falar para este grupo e para as paredes da escola que te abrigou. Daí esse texto ficaria lá, a partir dessa exposição. Pensei em ti porque me convidam a participar desse ato, mesmo que distante (estarei trabalhando no dia) e você, como extensão do que sou – minha influência na vida – me parece uma voz muito mais necessária de se fazer presente por lá do que a minha. Bem, mas a decisão final é sua. Ficaria feliz com sua presença, mas você teria pouco tempo para escrever essa carta, até sexta-feira, no máximo.

O que acha?
Abração.
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Renato Gadioli <renato.gadioli@gmail.com>           12 de maio de 2016 18:55
Para:  Jandir Jr. <mailexpressivo@gmail.com>

Olá guerreiros! Meu nome é Renato Gadioli, e um dia estive aí (para ser exato há uns 15 anos) onde vocês estão agora. Bom, não fui como vocês aí dentro, na verdade, posso me enquadrar melhor como um ‘covarde’ na época. Ao terminar o meu primeiro grau (hoje em dia ensino fundamental), tinha um sonho que estava prestes a ser realizado: seguir alguma carreira na área médica. Passei na concorrida prova para o curso de patologia clínica no até então desconhecido para mim Juscelino Kubitschek, e segui em frente nessa aventura. Um menino pobre, morador da Vila da Penha que até tinha um potencial escolar, mas que encontrou aí, na sua escola, grandes dificuldades de um mundo novo. Mas o que chamei de covardia foi um acerto na minha vida, pois descobri que não havia nascido para a área médica, com isso, desisti do curso e do ensino de qualidade que me era oferecido. A partir da minha covardia, parti para o mercado de trabalho e, somente após dez anos, conclui meu Ensino Médio e entrei para a Universidade para fazer o que descobri ser meu sonho: a docência. Hoje estou no sexto período de licenciatura em Geografia e me sinto feliz pelas escolhas que fiz. Se um dia não houvesse me enganado a respeito do meu sonho, se não tivesse desistido e se não me afastasse da escola por tantos anos, bem, não estaria feliz como hoje estou. E a razão de estar contando essa parte da minha para vocês? Porque acredito em um futuro onde os alunos não sejam covardes como fui, pois acredito em um futuro onde guerreiros lutam por seus ideais, como hoje sou, e como vocês já são (levei uma década para ter o engajamento que vocês já possuem), e isso me faz acreditar na função do professor, formador de cidadãos que lutam por seus ideais. Me vejo satisfeito em ver um movimento como o de vocês que se espalha pelo Estado, que aterroriza os que não dão a mínima para o futuro de vocês, que não se preocupam com o presente dos seus professores… Continuem firmes nesta luta e sigam em frente!