Jandir Jr. <mailexpressivo@gmail.com>  15 de agosto de 2016 09:14

falo do banco dos irreais. a pretensão a criar uma plataforma que servisse para alavancar a autonomia da população me parece muito bacana. mas era um estrangeiro querendo fazer isso em meses dar certo. não deu certo, pq precisava de envolvimento… e escuta. existem outros bancos de tempo aqui no rio de janeiro. cada grupo social provavelmente precisava de uma plataforma diferente. o site foi feito por alguém completamente desinteressado com a causa [o designer, a equipe de comunicação]. e tudo, no fim, acabou ficando extremamente verticalizado, demandado pelo josé, mas sem adesão real – em longo prazo – de qualquer grupo social. foi um projeto que se preocupou em fazer sem se por em risco de se modificar pelo contato com outras pessoas. pouco se conseguiu contato, pq tudo deveria ser feito muito rápido. e, por fim, por tudo isso, ele acabou sendo mais uma instalação no mar que uma plataforma para além de lá.

talvez o melhor nem fosse fazer essa plataforma. quando conheci josé, soube que a pretensão dele era fazer uma publicação sobre como viver no capitalismo sem dinheiro com exemplos daqui. isso me interessou. mas o banco dos irreais, projeto posterior dele, é sensivelmente diferente. depois do meu contato com o banco dos irreais, percebi que essa economia não poderia ter partido do josé somente – estrangeiro, isolado da realidade do nosso estado, pensando economia solidária com seu acúmulo de conhecimento, mas sem conhecimento algum dos territórios aqui do rio e do brasil -, mas sim de cada grupo… acho que um mesmo banco de tempo para todos não existe nesse nosso momento. mas sem grilos; as pessoas conseguirão se mobilizar quando necessário.

gosto muito do josé e dos trabalhos que ele fez. mas fiquei com a impressão estranha de que as residencias artísticas são contrapartidas falsas para a sociedade no fim das contas. josé, que tinha a intenção de criar um projeto impactante aqui, não o realizou bem. falta de tempo, de recursos… sobretudo, creio que, dentro dessa intenção dele, a coisa não aconteceu; a sociedade não foi beneficiada como deveria ser. mas ao josé, artista em visibilidade no mar, houve um pagamento: sua valorização simbólica cresceu ao fazer o projeto de qualquer forma. teve mídia, entrou pro seu currículo, está documentado e faz parte do acervo do maior museu do rio de janeiro. fico pensando nessa amálgama entre os interesses institucionais, o incentivo financeiro corporativo, público, a carreira como artista e a vontade de criar mudanças sociais… já não sei se essas coisas conseguem andar juntas, harmonicamente. será que dá pra assinar alguma coisa e promover impacto social? será que o autor e o anarquista conseguem viver no mesmo corpo? será que um museu – o local do discurso dos vencedores – e o capital privado e público podem ajudar realmente nisso? ou vão atrapalhar, ditando outro ritmo, outras demandas, complexificando com suas demandas a demanda revolucionária?

por via das dúvidas, parei de me inscrever em editais para residencias e salões e exposiçoes. tenho escrito um pouco mais, buscando um lugar mais calmo para pensar… onde eu quero estar?
já não sei se quero estar num acervo como realização pessoal da minha vida. mas acho que ainda não conheço o que gostaria para mim, já que passei uns seis anos achando que ser um artista em visibilidade fosse o ápice.
talvez esse lugar tenha de ser inventado. talvez, esse lugar tenha de ser assumido, por ser o lugar que já ocupo; o lugar da banalidade da vida comum, sem privilégios, sem publicização.
já não me importa tanto o banco dos irreais, rs. foi importante para que eu pensasse essas coisas a partir da decepção p com ele.
sigo pensando, para que um dia eu consiga não escrever perguntas quando vc me perguntar coisas.