O que é uma escola livre?
Usualmente, acho que a liberdade possa ser encontrada em algo como o que acontece à cadela entre o momento em que tiramos sua coleira e o momento em que ela corre alegremente. A liberdade me parece durar pouco para garantir uma constância.
Mas me recordo da Marta Mestre declarando durante uma de suas aulas como curadora visitante que não conseguia deter atenção em vídeos expostos em galerias, em museus etc. E me recordo tão em seguida do dia em que ela nos apresentou o vídeo de Richard Serra, Hand Catching Lead, e fez questão que se transcorressem seus três morosos minutos por completo, nos quais apenas há uma mão contra um fundo neutro tentando capturar pedaços de chumbo a cair constantemente, entrando e saindo do recorte do quadro, de cima para baixo. E quero confessar hoje, visto isso, que tenho alguma impressão que liberdade também possa se dar quando queremos algo em longa duração, e que a mão de Richard Serra não buscou a captura em seu vídeo, mas, disponível aos chumbos em declínio, me pareceu tornar somática a própria liberdade.
Nunca diria que há uma escola livre. Nem desejo exatamente escolas livres, pois anseio compromisso com a liberdade que irromperá em toda a escola. E a liberdade – que entendo como este momento suspenso em que ainda não desejamos, mas finalmente iremos desejar – já não sei se virá pelo fugaz ou pela duração; me é difícil raciocinar sobre isso agora.
(com Lisette Lagnado, para um livro que não chegou a ser publicado)