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Como se mostra um trabalho?

A ideia de que há espaços e condições ideais para expor trabalhos de arte é um pensamento que normatiza e engessa; evita o sopro e tolhe a imaginação. Parte dessa noção se deve ao ranço modernista, que ao solidificar a concepção do cubo branco — modelo ascético isolado do mundo —, fundou um conceito tautológico: se está no devido contexto é arte, e é arte porque está no devido contexto. Naturalmente, promoveu-se uma esfera institucionalizada, gerida principalmente por museus e galerias. Outra parte dessa pressão indesejável vem dos processos que achatam as ambições ao ponto da homogeneização, empurrando as vontades na direção de um sistema já reconhecido e bem estabelecido. Diante das tantas possibilidades ventiladas por mais de seis décadas de revisões dos espaços institucionais idealizados e experimentações de toda sorte, em que foram mostradas obras em casas, ateliês, na rua, em teatros, lojas, ao ar livre, em sítios ecológicos ou em livros e revistas, temos que manter a visão aberta para que seja possível criar meios e produções que se desenvolvam com autonomia em relação às forças conservadoras que agenciam a concentração de toda forma de capital, afeto e atenção.

O Novas Poéticas, como espécie de convocatória-encontro-laboratório surgido dentro de um ambiente acadêmico, pode sempre transformar-se, adaptar-se e encontrar novas maneiras de existir. Este ano optou por alcançar outras fronteiras geográficas e conceituais. Deixa o eixo do Sudeste em direção ao do Sul, ao passo que também decide se aproximar do mercado. Nesta investida que explora outras formas de conceber sua existência, reúne artistas de diferentes cidades do país, e que se valem de distintas pesquisas e mídias. Em comum, no entanto, todos compartilham o mesmo desejo de estudar e entender o mundo, e expor seus pensamentos e práticas. Encontram então na chamada do programa uma oportunidade para arriscar-se num contato com o público e os fluxos comerciais.

Trata-se de uma ocasião para ensaiarmos juntos os possíveis distanciamentos e conexões entre atividades independentes e acadêmicas e o dito circuito profissional; mas também para tomarmos fôlego e pensarmos outros caminhos ainda não imaginados. Que o presente diálogo incentive a busca de mais espaço nos modelos já conhecidos, e que possa igualmente gerar uma energia capaz de formular e executar proposições insólitas. Que dê entusiasmo para que se mostre mais, e impulsione novos lugares para além dos campos convencionais, provocando ações capazes de apontar outros modos de se fazer e mostrar um trabalho de arte.

Germano Dushá
Curador (Novas Poéticas, 2016)

(pares)