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Paula Vileny 30 de agosto às 16:13

Talvez você só entenda o vídeo após ler o texto.

Sexta-feira, dia 25/08/2017, Museu de Artes do Rio de Janeiro.

Estava eu de férias no Rio de Janeiro onde reservei boa parte da minha programação para visita a Museus. Dentre todos que visitei, foram 6 no total, em um tive uma experiência bem desagradável.

Museus, para mim, devem ser vistos como espaço destinado à construção e disseminação do conhecimento na sociedade, local para estar em silêncio consigo e com seus pensamentos.

Chegamos ao Museu às 16h, às 17h a bilheteria encerrava, mas quem já estava lá dentro podia permanecer até as 18h. 2 horas em um museu é pouquíssimo tempo, então tínhamos de aproveitar da melhor forma. Mas, um obstáculo foi encontrado e não tinha nada a ver com tempo….

Em uma determinada área, enquanto olhava a exposição e lia as informações que ali continha, funcionários que estavam nessa sala, que ao meu ver deveriam estar ali para vigiar/tirar dúvidas/fiscalizar entradas e saídas de visitantes, se divertiam ao trocar mensagens de rádio com outros colegas, onde o rádio que deveria ser usado também como mais uma ferramenta de trabalho dá espaço para um instrumento de “descontração”.

Como funcionava a brincadeira: de um lado alguém falava uma palavra e quem a recebia deveria cantar uma música com a palavra mencionada, após isso os papéis invertiam. No momento que filmei, os funcionários receberam a palavra “banana” e os mesmos começaram a cantar uma música do Chiclete com Banana.

Conversas, brincadeiras, gargalhadas, zoada e uma tremenda falta de respeito com quem, pelo menos tentava diante do barulho formado, se concentrar na exposição, nas leituras.

Olhávamos para eles, para ver se tocavam com a situação, mas estavam concentrados demais na sua atividade. Então, resolvi filmar. Nem perceberam.

Saímos e fomos para outra sala, tinha um segurança e perguntamos se existia algo ou alguém para que contássemos o que tínhamos presenciado. Mas, não tinha ninguém e acabamos descrevendo o que tinha acontecido ao segurança, e sabe o que ele nos respondeu? “Ah, são jovens”.

O que eu vi não remete a isso. Foi falta de educação, de respeito, de cuidado com o outro, falta de ética no trabalho. São jovens… também sou, também somos. Juventude não tem nada a ver.

Idade não traduz maturidade. É verdade que ninguém é responsável pelo progresso, mas ninguém lhe é indiferente e nem deixou de fazer parte dele, por isso, deveriam deixar de justificar algumas atitudes dos mais novos como se esses males fossem normais por pertencermos a uma geração diferente.

As atitudes que temos hoje é o reflexo de ontem e uma inspiração para o amanhã, podemos e devemos melhorar aquilo que se percebe que precisa ser aperfeiçoado, com a garantia de que todos ganhamos, pois, o saber não ocupa lugar.

Sem experiências não há aprendizagem e não é a idade que define tal opção, mas sim a disponibilidade de cada um, pois querer é um passo para fazer.

Se acreditarmos que sabemos o suficiente por termos uma determinada idade, acabamos imaturos, inexperientes, parados no tempo, amargos, frustrados… bananas.

Banana. BANANA. BA-NA-NA! Não é que a palavra recebida no rádio cabe totalmente a eles?!

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(eu fui um desses educadores que paula menciona. e recebi uma advertência, que somada a mais duas seriam motivo para uma demissão por justa causa. um outro educador já chegou a receber uma advertência quando uma criança quebrou uma obra de arte que estava danificada (era um segredo interno de alguns do museu: uma parte sua estava colada precariamente, antes do caso). olharam o circuito interno de tv, julgando que ele, o educador, não fez o suficiente para impedi-la (talvez se jogar na frente da arte?). rs. não são sozinhas que as câmeras nos fodem.)

(03/10/2017 – O Museu de Arte do Rio, após os ataques dos setores conservadores à sua vontade de abrigar a exposição Queermuseu, bem como após uma manifestação que aconteceu em suas galerias no último domingo, irá publicar um documento público informando sobre limites e direitos de seus funcionários e visitantes. Nele está definido, entre outros aspectos, que é proibida a gravação não autorizada de funcionários, que só com consentimento se pode realizar registro audiovisual dos colaboradores. É importante frisar, frente a isso, que o MAR decidiu proteger a imagem de seus funcionários nessa situação que fragiliza a própria instituição, mas não tomou essa posição quando o vídeo realizado de forma não consentida foi interessante aos seus processos internos. Por essas informações afirmo sem grandes incertezas que o museu, ao criar esse documento público, se interessa antes em proteger a si mesmo do que em proteger seus funcionários de base. Ou, numa articulação mais dada entre esses agentes, creio que o MAR deseja proteger esses funcionários somente na medida em que são estruturantes de seu infinito vir-a-ser (entendo que o ato de uma instituição é apenas o de criar-se ininterruptamente; nada faz muito bem para além disso), e não em sua existência plena como cidadãos – numa perspectiva da nossa invenção do social – ou como vida – na inalienável perspectiva ontológica de nossa ecologia, negligenciada por esse mesmo social que nos imbui a cidadania -.)

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(No mais, penso o que fizemos com os rádios no MAR como o que historicamente chamamos performance: um ato contra as estruturas da arte como hegemonia.)