
Minha mãe costuma espalhar bilhetes pela casa. E não raro me peguei olhando para eles como obras em arte, pensando-os como uma intervenção doméstica, ou mesmo como um texto sendo escrito onde moramos. Talvez por isso tenha guardado alguns na esperança de aplicá-los em outros contextos que os atestassem como um procedimento artístico. Já os dei por coleção uma vez, quando percebi que o que os torna especiais é sua pálida relação com esses limites que fazem meu lar, e os joguei fora. Agora juntei novamente uns bilhetes. Tive a intenção de dar-lhes a outro lugar. Mas eles só são obras estando onde estão e se dando a mim mesmo e a ninguém mais. Calmamente me despeço. A lixeira é logo ali.