Na universidade em 2010, 2011, eu ainda cursava disciplinas sobre conservação de obras de arte. E lá ouvi falar pela primeira vez na incidência constante de luz em uma obra, que pode afetar seus pigmentos, causar danos à sua visibilidade, provocar seu desaparecimento até. Ciência rapidamente difundida por entre instituições que tem por missão preocupar-se minuciosamente com certas posses, o que contribui para que eu deva orientar visitantes a não fotografarem com flash nas exposições que monitoro desde que comecei a trabalhar nisso, há alguns anos.
Também devo lhes impedir de tocarem a maior parte do que está exposto. São funções que compartilho com outras pessoas, o que menciono por lembrar de um caso em que alguns funcionários de outro museu visitavam esse que me emprega, puseram suas mãos em uma das esculturas, no que um dos monitores que trabalha comigo os advertiu e me confidenciou, de longe, um olhar de reprovação para eles, que por desempenharem cargos como o nosso provavelmente já sabiam das barreiras intangíveis entre seus dedos e aquelas coisas.
Há uma versão, contudo, que permanece obliterada nesse caso, o que é presumível pelo olhar decepcionado que provocou. Se víssemos como iconoclastas esses trabalhadores, somando seus toques aos toques das mais de milhares de visitantes que contribuirão para a ruína do patrimônio, haveria brilho nos nossos olhos, assistindo a derrocada lenta do mármore; sua noite chegando.
Eu carrego um ponto de luz comigo. Um LG K8 fotografa com flash. E há textos que dizem da luz, do contemporâneo à luz, da luminescência fraca dos vaga-lumes. Mas essa pequena luz vem do meu bolso junto com todos esses flashs, acidentais ou não, reacendendo aos poucos a escuridão originária, em que adormecerá o sono de tudo.