Umx mediadorx se põe entre duas, dois pólos. Há a quem interesse dizer que umx mediadorx liga esses opostos. Mas duas existências, até então estanques, podem se unir de muitas formas, e muitas vezes prescindindo da assistência de qualquer terceiro. Duas pessoas podem ser apresentadas por alguém, ou se pegarem trocando opiniões sobre o trânsito, sentadas uma ao lado da outra em um ônibus, por exemplo. Umx mediadorx, por sua vez, pode conciliar um conflito entre duas partes, mas não é por ele a solução nem o enlace entre estxs, que pertencem e beneficiam a quem foi assistidx somente. Portanto, antes de tudo, umx mediadorx interfere na relação que vai se estabelecendo num contínuo entre duas, dois pólos.

Como mediador em um museu de arte, eu desejo interferir de modo a construirmos discursos críticos eu, as obras de arte e essas pessoas que me acompanham, minhas semelhantes. E discurso crítico só há se há a voz dissonante, aquela que revira o objeto do discurso, aquela que é a antítese frente à tese. Por isso só cabe falar sobre uma mediação crítica, como aqui falo, quando não sou o único a falar e quando minha voz não ancora autoridade sozinha, d’eu que sou museu. Quando não seguimos isso, quando quem me acompanhou não falou, ou rendeu sua voz frente à minha, não fui mediador, ainda que tenha produzido criticidade em quem me ouviu. Tudo bem quanto a isso: nem todo o dia estamos em roda, nem à frente nem atrás dxs nossxs.

Também, a rotina me condiciona um tanto os gestos. Percebo-me retribuindo um olá acompanhado de um toque no ombro somente meneando a cabeça, murmurando sorridente. Isso remonta a quando tocava visitantes nos ombros, avisando-lhes o que poderiam ou não fazer, e me recomendaram não encostar em ninguém ao entrar em contato aqui no museu, pois sempre haveria o risco iminente de um processo contra mim, da parte de alguém que entendesse meu toque como violência. Desde então esse protocolo se amalgama a uma crescente protocolar em como me relaciono com pessoas que assisto quando trabalho, o que me trás alguma paz e isenção na lida cotidiana com tantxs, mas que me vem como alguma frieza nos dias em que desperto desse sono dos meus gestos, bêbados dos dias.

Cabe, disso tudo, saber que impera anterior à mediação uma grande galeria vazia de gente, com excessão de mim e uma pessoa a observar uma obra de arte em seu extremo oposto, distante o suficiente para que eu pense em todo o longínquo que é entre nossas peles, e até entre o curto espaço entre seus olhos e a tela, que não me têm interferindo suas mútuas afetações. Mediadorxs, quando exercendo-se ao invadir, surgem e fazem surgir discursos críticos em um lugar que não foi sequer cogitado. O campo de visão é na verdade uma fresta entre as coisas. Os olhos são uma dessas coisas, no oposto do oposto que é a obra. Há então um espaço a ocupar no que se vê em uma exposição: nesse vácuo à um palmo da visão do objeto artístico. Ali se faz mediação. Críticxs ou não, mediadorxs lhe invadem, nunca convidadxs. Ali começa tudo.