Foi o tal do Molloy quem disse que o que faz a paz de um pesquisador incurioso é saber não poder saber nada? Não sei. Mal comecei a ler esse livro. A Mônica que me mandou um trecho por mensagem. Mas tenho que confessar que esse lance de pesquisador incurioso me seduz, no sentido de me pensar como um desses, apesar de estar com dúvida se me faço um pesquisador incurioso ao não ler bem o que cito ou se tenho apenas preguiça, ou se me propor a escrever a partir de algo que li mal me faz ainda assim um pesquisador, ainda que pouco curioso.
E por que um pesquisador? Por que eu não poderia ser outra coisa que um pesquisador ao escrever pensando no que mal li? Na verdade me parece que eu poderia mesmo, e que defendo esses escritos como pesquisa por algum interesse nublado, por alguma semelhança com o estranho fato do Molloy (será o Molloy?) carregar em seu bolso um objeto que nunca revelará sua própria razão como um edifício bem assentado; daí decorre que só saiba não lhe saber nada, o que é uma conclusão, e uma conclusão socrática, pelo que falam por aí. Mas me parece que até a conclusão mais óbvia doa em sua própria morte, no ponto final que é, a vida de uma tese porvir.
Não querer saber nada não é nada. E acho que já é evidente que não quero tanto assim ler o livro, e que por isso não carrego comigo a paz que só não ter a menor chance de saber algo sobre Molloy me daria. Mas é que…
Montaigne – escrever sem lembrar
Eu – escrever antes de saber
Escrever antes da leitura minunciosa
Estado voluntario de ignorancia, de onde decorre seu efeito
Montaigne – ha algo que so pode ser escrito pelo esquecimento; seu proprio vazio, seu estado lacunar, sua oportunidade de viver o zero pelo relato e pelo idioma.
Eu – ha algo que so pode ser escrito pela escrita que vem antes, pelo texto da pressa, do contato fugidio
Pesquisa em arte – estado voluntario de ignorancia