Houve um sonho que sonhei. Era 2015 quando deitei a cabeça e deixei de ser eu. Vivia em Marte, e estava com a metade inferior do meu corpo enterrada em sua terra vermelha e deserta. Sob o firmamento negro só meus olhos, ouvidos, cabeça, braços, meu tronco vestido com uma camiseta. Não me lembro de sua cor.

Esticava minhas mãos no curto perímetro que podia alcançar, revirando o solo ao meu redor. Havia coisas que recorrentemente eu encontrava; resquícios de outras espécies que cruzaram a mesma terra que me prendia naquele momento. Livros que achei enterrados, e livros que me ensinaram os idiomas usados em outros livros que li ali, me mostraram um tanto sobre as raças humanas, que pareciam comigo na parte que eu conhecia de meu próprio corpo, e que viviam em grupo, unidas. Já eu, não sabia sequer se pertencia a uma espécie. E mesmo se pertencesse, aqueles como eu estariam também enterrados, distantes de mim, naquele mesmo planeta ou em outros. Como nos encontraríamos?

Tal pergunta não ocupou espaço em meus interesses. No sonho, encontrei logo um dispositivo que desconhecia, antes soterrado por perto. Parecia algo que a humanidade poderia ter construído – minha erudição era toda das literaturas humanas -. E, ao ligá-lo, não me recordo de que modo, comecei a conversar com um outro, de Saturno. Não era um homem.

Ele carregava a areia do solo do planeta de um lado para o outro. O que o empregava se chamava Ampulheta. Como eu, se via sozinho no imenso território, munido somente com longos bolsos em suas roupas; os usava para cumprir sua tarefa. As noites eram tão longas que só falava delas no plural, por serem muitas. E queria conhecer o sol de perto, visitar.

Me causou alguma preocupação. Temi por sua segurança. Ele poderia se mover até lá um dia. Iria se queimar facilmente, eu imaginava. Cheguei a me projetar nesse tipo de empreitada e, claro, só a conseguiria se o sol chegasse até mim. O que me fazia temer ainda: essa aproximação, apesar de lenta, milenar, iria me consumir rapidamente. Derreter em uma fração de segundos. Não via desejável o imediato.

Mas o caminho para o sol cruzava por Marte quando vinha por Saturno. Ele especulava uma parada em sua viagem para me ver. Aquém da preocupação, eu finalmente iria conhecer alguém de perto. Porém, nos demos conta que não sabíamos nossas próprias medidas um em relação ao outro. Ele era bestial, com pelos prata e uma constituição corporal de fera, mas poderia ser do tamanho de uma formiga quando ao meu lado. Vivia em uma diáspora solitária, não conhecera os seus nem outros. Foi exilado do convívio quando filhote, violenta que era sua espécie, e não tinha outra medida de si fora a areia que carregava para a Ampulheta. Eu, parecido que era com a humanidade, imaginava que minhas medidas fossem como as deles, por volta de oitenta centímetros de altura no tronco. Mas isso desconsiderava todo o resto de mim que residia enterrado, penetrado no planeta.

Foi quando disse ele “estou fértil”: me dei conta de que eram raízes o que me descia solo abaixo. De um tamanho descendente que poderia ser toda a extensão de Marte, eu seria enorme. E me enraizava porque daria frutos e sementes, acreditei eu. Em Saturno, havia aquele que poderia receber em sua fertilidade minha semeadura, que desejava vir até mim, mesmo que depois fosse morrer ao visitar o sol. Nos apaixonamos então.

(…)

em Três anos dpois eu retorno a esse sonho. Li Frontispícios. Lembrar de quando minhas pernas, pés, cu, genitais, muladhara, quando fui raiz e me estendi infinitamente num solo que nem conhecia, suspenso num infinito que não era minha terra… li os protagonistas na terra. E perdi a medida central de qualquer humanidade ao ler. Não era perder a humanidade; ainda haviam feridas e hálito, mas o centro já não era ao homem. Vi algo que não humano; a medida de nossas égides cruéis e dolorosas já não media tão bem. Como quando em Marte julgando um dispositivo pelas meus parcos saberes vindos de toda literatura humana que encontrei enterrada, frontispícios me foi leitura que me pôs à margem a centralidade da similitude com o humano e sua linguagem k, com o humano e sua troca de falas,/ com o humano e seus marcos narrativos. o chão protagonizta. Nós o ouvimos para que consigamos dar o próximo passo em segurança. As flechas são atingidas pelo alvo. Tudo ocorre: selva pessoal. Aqui não conjugamos o verbo se Fomos. seremos nós conjugados … … .. . . . . .. Pisque.