Ande em uma exposição desinteressado com o que o cerca. Use um uniforme. Tenha sentenças e imperativos escritos nele. Espie seu celular. Interaja com desconhecidas. Controle: fome, sede, ânus e uretra. Aprenda a sentir a passagem do tempo cronológico sem nem precisar olhar o relógio. Veja o vidro manchado, a luz queimada, a borda vincada no canto: nunca a obra. Puxe a coriza para dentro de você. Pelo silêncio, não assoe. Memorize. Esquerda, à frente, um lance de escadas, senhor. Caminhe de modo perdido. Levante suspeitas por caminhar tão perto. O que será que eu fiz? Respeite a distância entre um vírgula cinco e dois metros da visitante. Não toque ninguém, nada, mas acaricie rapidamente a moldura de uma pintura do século dezenove às nove da manhã, antes do primeiro chegar. É proibido qualquer líquido, em perdigoto e mesmo em lágrima. Engula. Fica dentro de você. Atrás dos olhos, tudo contido. Não chore.