De jandir jr.

Para rafael amorim

É difícil recordar como. Quando há memória em mim só lembro dela abaixando o short e mostrando a buceta. Me impressionava a cor vermelha, o molhado dela, toda a carne fora. Tiro por cima do elástico da bermuda. Nem lembro se eu já sabia estar muito duro. Tentávamos meter na varanda, a frente da casa onde, segundos depois, minha mãe gritou com ódio. Bem depois, horas depois ainda, a mãe disse que alguém passou e nos viu do lado de fora. Olhou pra ela ao lhe ver chegando, distraída da foda, no corredor que dava pra rua, o outro lado donde estávamos. Demonstrava vergonha em trocar esse olhar cúmplice, essa pessoa desconhecida. Já não sei quais foram os primeiros olhos que nos viram: os de mãe, nesses olhos anônimos, ou os anônimos, na frente daquela inocência toda nos olhos dela.

Eu queria botar na boca. Por iniciativa, quem pôs foi ele. E ele queria sentar um pouco também. E eu não quis. Chegamos a nos tocar juntos, uma mão só. A gente gostava. Quase deitando em mim, escondido, escadas bem altas no seu prédio. Havia conhecidos dizendo que era viado. Você anda com ele por quê? Nós nos vimos lá na varanda um dia. Conversas sobre animes. Tentou entrar sua mão na minha bermuda. Na varanda alguém nos veria. Eu não queria, mas soou como se eu não quisesse nunca. Agressivo me esquivei. E virar o rosto, não atender, privilegiar uma garota, dar desculpas. Sem nunca saber quais os primeiros olhos que nos veriam.

Há o medo de dizer as histórias que seriam o motivo do negar. Nunca ocorreram: era o que nunca precisaria dizer. Mas agora, aqui, são as provas do quanto sou patético, de como falho na empatia com o outro, de como desconheço algum tesão, da minha casa: limite das brincadeiras, de como sou explícito quando gostaria é de ser transparente. E isso se ocorreram assim realmente. Mas na dúvida, nessa dúvida, já hão suas existências.

Rafael, tenho minhas histórias pessoais a parir da sua obra. O espelhamento das duas, a recorrência da mesma varanda, o espelho em que encosta a marimba que pende. A fragilidade da sexualidade é a fragilidade de toda heterossexualidade. A pedra quebraria o vidro. Mas repousa nele, e só. O que me veio como um Iembrete.

Obrigado.