Carta a um capitão: enviada ao então Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro

Eu pausei uma música agora mesmo e decidi começar a escrever. Para iss, primeiro, apaguei as luzes. Ou melhor, antes disso, fechei as janelas do meu quarto. Aí sim, depois de pausada a música, apaguei as luzes. Cobri os botões com leds do meu computador. Reduzi o brilho da tela até o ponto em que ela se mostrasse desligada. Por fim, para garantir, fechei os olhos. Garanti a mim mesmo a completa escuridão. É nela que quero lhe escrever.

Meu nome é Jandir, mas houve também ênio Silveira, que escreveu duas cartas ao Marechal Castello Branco, quando foi presidente. Eu estou aqui, mas soube também, e antes, de León Ferrari, quando escreveu ao general, ou melhor, a um general. Carta a um general: uma amálgama de garatujas que, de tão emaranhadas, e apesar de carregarem ns suas formas a tônica alfabética das cartas, dos textos, da rpos organizada em linhas pautadas de caderno, guardavam… um a opacidade. Um silêncio? Não. Eu diria que guarvabam um grito que barulhento como era, nos deixouensudersidos…. sua carta, uma obra de artes plásticas, é ilegível. E foi endereçada a um general. Qual? Como seberíamos.

Quem é você, capitão? O escuro me faz pensar em dormir, em sair daqui e ir beber água, em relativizar a importância de lhe escrever algumas palavras. Sabemos que pergunto quem você é, mas, se as caa crta chegou à sua mão, ou na mão de alguém que esteja mais próximo de você, sabemos…. você é nomeável.

Mas a vulgaridade está é reforçar o quanto, apesar de nomeável, você permanece inominável. O quanto, a despeito de sua projeção nacional, a despeito do lugar que ocupa, dos seus detratores e aliados, a despeito de tudo isso, voc pode ser visto, por mim ou por outras popessoas em potencial, como um anomnimo. Uma incógnita. Algo passível de não existir. Um destinatário que surge em meio a escuridão.

E talvez meu costume em datilografar no teclado do computador e as rahuras nas teclas estejam me ajudando a me fazer compreensível. Por outro lado, talvez não: talvez minhas exitações, no uso das teclas de correção tão rapidamente que eu não conto quanto estou apagando, quantos caratcetres se vão… talvez, a despeito do meu costume, o hábito adquirido de digitar ráido, conferir com o olhar os erros que a velocidade imprime aos textos que datilografo… eu devo estar errando, é certo. Mas …

Tamvém vim no esuro. Com ideias nebulosas. Sem certezas. As luzes que aqui estão apagadas, meus olhos fechados, a ipetulancia em escrever sem plano do voo, tudo isso se soma. Numa carta que não tem tanto a lhe dizer a mais do que o que já diz pelas suas hesitações, erros imprecisões, esquivas. Penso eu que aescrita prescinde da luz – tanto que eu estou aqui, escrevendo na mais completa escuridão. Já a leitura, essa leitura feita pelos olhos ante uma página impressa, necessidade deiluminiação. Mas… quem sabe, a luz que você usará para ler seja, na verdade, certo adereço bobo. Que iiluminie pouco e mal. Quem sabe, …. as ideias talvez se mostrem apagadas, o mundo sse mostreapagado… sei lá, entendo que se eu escrevo no escuro. É porque acredito, no íntimo, endereçar ao escuro a carta. Acreditar num serviço postal que transmita a ideia anoitecida até você, porque compartilhamos algo, essa noite que recai sobre nossos olhos, sobre nossos omros. Sei lá.

….

Uma noite sem lua.

Não tenho mais o que dizer, eu acho.

Att.,

12 de agosto de 2022 às 12:47
infoap@presidencia.gov.br infoap@presidencia.gov.br
Para: mailexpressivo@gmail.com

Prezado Senhor Jandir,
O Senhor Presidente Jair Bolsonaro incumbiu-me de registrar o recebimento de sua mensagem.
Cordialmente,
Marcelo da Silva Vieira
Chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica
Gabinete Pessoal do Presidente da República

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