vidro: e-mail enviado à vidraçaria Tecno Temper
10.3.2018
Entre meu lado de cá e a imagem do que lá está, há um vidro. O sei por tudo o que não lhe transpassa transparente, pelo vidro ser opaco somente na gordura das peles que lhe tocaram, em nossa umidade que nele se tornam gotículas, num pequeno filete de luz que se disperse por sua superfície ou lhe produza reflexos daqui, sendo que nas bordas, onde o vidro dobra deste lado àquele, seus vértices à mostra me dizem do quão espesso é, o que também finda sua transparência.
Mas se as bordas estivessem disfarçadas em molduras discretas, se não o embaçássemos respirando rente a ele, se a luz fosse propícia a não fazer espelho ou prisma, se nem um mínimo grão de poeira lhe aderisse, só o perceberia se, crendo no que ele silenciosamente cindiu, lhe tentasse atravessar sem o saber; como quando fui criança num museu sem andar com as mãos dadas às da minha mãe e corri em direção a algo espetacular que já não recordo, tal o impacto do meu corpo na cúpula que o rodeava.
E agora eu mesmo trabalho em um museu. O que me diz, pela proximidade, que já não há risco de colisão.