Bilhetes deixados no chão

Este bilhete foi escrito por um educador que demora quase três horas para ir ao museu onde trabalha. Que demora quase três horas para voltar para casa. Que acorda às cinco da manhã e, nos dias mais escuros, tem dúvidas se conseguirá dar um beijo de despedida no rosto de sua companheira ou em sua cabeça, ou no seu ombro, enquanto ela dorme. Que, quando sai de casa, caminha por um trecho com muitas pessoas catando pequenezas no chão. Pega barcas, ônibus, vans. Passa por cartões-postais e áreas de milícia. Vê recorrentemente um homem com uma mancha roxa na cabeça sentado na sua frente, no ônibus; parte da paisagem rotineira de árvores, prédios históricos, estampidos de armas, cavalos, pinos de pó caídos. Quem trabalha conduzindo visitas tem, antes, seu próprio roteiro de visitação.