
Postal para dois ou mais trabalhadores conversarem
Este é um postal para dois ou mais trabalhadores conversarem. Uma carta sem envelope. Um texto exposto ao mundo. Palavras que serão acariciadas por muitas mãos. Lidas por mais do que dois pares de olhos. Mas sem paisagens impressas no verso, sem lembranças turísticas. Sua imagem será a dos vincos que ganhará ao longo do tempo. Do amarelecimento do papel. Das manchas de gordura, de café, das rasuras à caneta, de cada dedo que encostar aqui. De duas ou mais pessoas que, à distância, tocarão este papel ao longo do tempo. E, em cada rastro desses toques, uma dirá algo à outra. Em impressões digitais ou desgastes no canto da folha. Aqui, toma. Escreve algo, envia pra alguém. De mão em mão, mesmo chegando ao seu destino ou se extraviando, continuaremos nos falando. Neste cartão-postal.
[Na Área de Convivência, na Biblioteca, na Comedoria, nas imediações do Teatro, na Loja do Sesc Pompeia, cartões-postais foram postos ao longo do dia nas superfícies e nas mãos de quem estivesse sentado junto às mesas, em bancos e cadeiras. Sua paisagem não era a de uma fotografia turística; era como a impressão lenta das digitais de todos os trabalhadores que, desconhecidos entre si, convivem sem saber, dia após dia, a partir do que suas mãos tocam]
[fotos: Regiane Pinheiro / Sesc Pompeia]



