E-mail enviado para a empresa Mondial, fabricante do meu ventilador.

Ele tem poeira em cada fresta. Em suas hastes de plástico, nessas mesmas que separam a hélice da minha mão, repousam infindos grãos de poeira. Tingem de um negrume cinza as superfícies que antes eram brancas, quando o comprei na Penha. Voltei andando da loja naquele dia, me lembro. Talvez o primeiro momento em que meu ventilador teve contato com a sujeira do mundo, suspensa no ar. Mas é certo que a caixa de papelão em que ele estava guardado o protegeu. Já hoje, não posso mantê-lo envolto em papelão; preciso de seu ar, preciso de seu giro. Antes ele do que eu.

Tem feito um calor da porra. Deito na minha rede e canso. Deito no chão e o suo todo. A noite longa dá aos pisos de taco uma película gordurosa e invisível assim que acordo, pelo final da manhã. Pego um pano encharcado de Pinho Sol e, às vezes, decido fazer exercícios antes disso. Usando o método Tabata, gotejo mais um pouco de mim na terra falsa e amadeirada do meu quarto, sem lhe regar nada, nem uma semente sequer. Mas talvez haja vales nas frestas do piso, declives montanhosos, desertos, tempestades de areia, cavernas e árvores que rasguem o clima seco, alimentadas pela água salgada que chove. Talvez eu veja uma copa frutada daqui de cima.

De: MONDIAL – SAC sac@emondial.com
para: “Jandir Jr.” mailexpressivo@gmail.com
5 de maio de 2021

Bom dia!
Prezado Sr, Jurandir
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