Hoje a bandeira foi reinvindicada por outra pessoa, que a me pediu de presente, e foi embora de mim rumo à baixada fluminense, onde nunca vou, mas de onde flamulará por agora.

Gostaria de ratificar que essa bandeira, esteja onde esteja e seja lá que forma seu tecido assuma, sempre será bandeira, e que, encoste onde encostar, independente de em qual corpo repouse, continuará sudário. Digo isso porque, por imperceptível que seja a tods além de mim, é bandeira e sudário esse linho de que falo; nada muda suas manchas, que eu bem tentei tirar com alvejante, mas que lá estão, típicas de uma bandeira, já que toda bandeira manchará. E toda bandeira, visto isso, tem um tanto de sudário. Tocada por quem a hasteia, secará alguma gota de suor, por mínima que seja. Mas isso é outra história.

Encontro de bandeiras – 29 de Maio de 2017

André Vargas

5 de junho de 2017 17:53

Para: “Jandir Jr.” , Janine Magalhães , Rodrigo Ferreira , Daniel Bruno , Guilherme Dias , natalia nichols , Gustavo Barreto

O texto aqui anexado foi escrito em virtude do encontro de bandeiras ocorrido na segunda feira, 29 de maio de 2017. Se você recebeu esse texto é porque de alguma forma você participou dessa exposição. Por favor, repasse esse texto às pessoas que você convidou se for o caso de ter convidado alguém.

Bandeira

 

Um convite foi feito para o fazer em correnteza: bandeiras de cores previamente estabelecidas e a espera pelo encontro, o junto de um conjunto. Mas era preciso soprar mais ventos nessa onda, convidados convidaram e a onda foi para não sei onde. Voltaria, mas com que força? Com que força ela foi? Não tenho, nem quis ter dimensão. Das pequenas bocas das lulas voltaria uma marolinha, o que também faria todo sentido, senti.

No dia muita coisa havia se modificado nas rotinas e nos trânsitos dos mundos e o dia já não era o dia para muitos dos sopradores de convites, convenhamos. As lulas assertivas diziam em coro a cada segundo, como pais maus conselheiros: eu não disse? Eu concordava, meneando a cabeça com os segundo que passavam no relógio de praça, passava a tinta preta no céu. Já era noite aquele dia e eu estava só. Carregava uma bandeira um uma praça hermética e pontilhada de turistas aqui e alí como almas transitórias. Achei que ia ficar só e só seria certo também, não era triste era o existe que me encontrava. Eu já me preparava para andar com minha bandeira a flamular maresias e conversas xoxas de transeuntes untados de saída de trabalho e maletas e gravatas e saltos mais altos, mas Jandir Jr apareceu alegre, Companheiro, como chamam no vermelho a bandeira-chama que embrasa a Brasilândia politicasta. Ele e sua bandeira, que já não me era uma novidade há tempos, mas que a cada momento é uma sem mudar. Branca, neutra, corpórea, simples, puída, viva e ambulante, algo fantasmagórica, algo alegórica e ainda assim nela mesma toda bandeira, onde o mastro é um ombro e de onde ele mostra o escombro ruinoso de um bom comprador de pano. O linho e a crueza do dia a dia já era ele.

Andamos. Conversamos. O que era aquilo que fazíamos alí para além de andar portando estranhezas? Ao menos os olhos munidos da guarda municipal punha em mira a nossa baderna interior. Averiguavam nossa bandeira exterior? Será que esperavam algo além da marola? Não ouviram o coral das lulas? Nós até tentamos obedecer certos comandos de desobediência, mas éramos erro a todo instante, até mesmo no errar, e caminhávamos mais errantes do que consoantes no cálculo, espetáculo. Testamos as luzes de uma sirene em fotografias que, metafóricas, anonimatam o tempo e o tampo das faces.  Elas diriam verdadeiras mentiras, poetas, fingidas, que são, infringiram o mais dado e puro duro nada (percebam as camadas). Demos algumas voltas na imensa praça escura, vinte minutos mais e menos de andor e palavras. Depois de tanto tempo de espera após o primeiro convite, eu e o primeiro convidado estávamos quites e planejávamos outros insucessos de encontros outras ondas e marolas em outros cantos de lula sem saber o que vai dar.

Praça Mauá, 2 pessoas.

Diego Lopes Xavier <diegolxavier@yahoo.com.br>  9 de maio de 2017 16:13
Para: Bruna Camargos <bruna.camargos@museudeartedorio.org.br>, “Jandir Jr.” <jandir.s.junior@gmail.com>, Priscilla Gabrielle <pri.vyper@gmail.com>, Jade Helena Da Silva <jadehelena.s@gmail.com>, Geancarlos Barbosa <geancarlosnbarbosa@gmail.com>

Como não vamos mais ter nossas rodas de histórias semanais, escrevo, por aqui mesmo, uma que escutei por aí.

Nas minhas andanças, esbarrei com muitas pessoas que ouviram dizer que no dia do sol seres mágicos, vindos de mundos distintos, se reuniram num grande e caudaloso mar do delírio. Me disseram que este mar era a morada de um sábio que sempre levava consigo uma manta branca infinita e que ele tinha muitos nomes, mas era mais conhecido como Jandir. Alguns diziam que este sábio havia feito daquele mar sua casa há muito tempo, mas que havia nascido lá pelas bandas do Uruguai – que não sei onde fica.
O que importa é que este sábio só era sábio porque queria conhecer as histórias de todos os mundos, embora já conhecesse um monte delas. E foi por isso que ele havia convocado todos aqueles seres para visitar seu mar-morada. Como era impossível ouvir a todos ao mesmo tempo, ele teve a ideia de pedir àquelas criaturas sagradas que construíssem embarcações típicas de seus mundos. Porque sabia o sábio que o mar e as embarcações são lugares que guardam muitas histórias, são como baús dessas narrativas. Foi um desafio muito grande praqueles seres estrangeiros construírem as embarcações com os materiais que o sábio havia disponibilizado – eram materiais nada convencionais para a navegação -, mas ao fim de um período que pareceu voar como um pássaro de asas muito largas, o mar do delírio ficou repleto de embarcações.
Foi ali que se conheceu a história de Santiago, do mundo dos meninos de 13 anos. Sua embarcação tinha um casco e um mastro, mas também tinha nuvens por dentro, que permitia uma fuga pelos céus. Se viu também a embarcação do mundo dos triângulos, porque lá todo mundo gostava e se inspirava na forma dos triângulos. A criatura do mundo das filhas de marinheiros também esteve presente com sua embarcação transparente para que seus pais pudessem ver o mar enquanto trabalhavam. O guardião das mudanças, que tem um nome tão esquisito que preferi chamar de Gustavo, levou seu barco que tinha uma corda e uma pedra bem pesada. A pedra deixava o barco tão lento quanto as mudanças que carregava e a corda fora uma tentativa de alguém por orientar essas mudanças, mas de tanto tentar puxar, acabou arrebentada em vários pontos: por isso essa corda tinha um monte de nós, marcas das tentativas e fracassos de orientar as transformações. Enfim, naquele dia muitas histórias foram contadas.
O mar do delírio passou a ficar lotado de embarcações e histórias e já não é mais possível navegar por ali sem esbarrar nas narrativas que ficam circulando. Desde então, o mar do delírio passou a ser conhecido também por outro nome: mar do encontro.

(Acho que, se esse ainda é um trabalho com evidência na gênese conceitual que expus neste processofólio, o é somente por aqui mesmo e para as poucas pessoas que me acompanharam nos primeiros meses de seu desenvolvimento, já que, atualmente, pouco falo – para quem pergunta o porquê carrego um tecido repousado no ombro – sobre esses estímulos que me levaram a tal. Talvez em algo – penso – esta bandeira seja um de meus trabalhos restritos, privados, quase que não-públicos; quem a vê em mim não pode intuir a minha real motivação em sua complexidade, e quem me pergunta sobre ela tem respostas evasivas de minha parte, onde digo que é só um tecido, que é como um hábito, que não passa de uma roupa inútil – a grosso modo, tal como uma gravata -. Poucos sabem que é uma bandeira, e que é uma bandeira arriada, e que nunca será hasteada porque nunca hastearia bandeira alguma, e que é de linho, e que, portanto, tal qual um sudário, carrega as marcas de meu suor e do suor dos outros corpos com que cruzo, e que, penso agora e por fim, esta bandeira permanece arriada menos porque não quero hastear que por precisar cumprir sua função enquanto sudário; por sua vocação ao suor, flamula baixo o suficiente para roçar as peles, na pretensão de secar o mundo a partir de mim, pequeno demais para secar o mundo, pequeno demais para suportar o hasteio (ou será que, por flamular, na verdade está hasteada em mim?))

André Vargas 15 de fevereiro de 2017 21:44

Este é um convite inevitável para uma exposição desnecessária

acontecer de cor-tecido.

Você está sendo convocado a fazer uma bandeira. Você está sendo intimado a fazer da bandeira um suporte pictórico-simbólico tal qual um quadro. Você está sendo cooptado para empunhar as cores em conjunto em um espaço público. Você está sendo invitado e a transformar a praça pública em espaço expositivo. Você esta sendo convidado a conectar sua bandeira a outras bandeiras.

Sorria, você está sendo cotado para uma exposição do estranho nem tão estranho de dentro do – Fora temor!

3 REGRAS DA LIBERDADE:

1 – Toda bandeira deve ser feita com tecidos e/ou tintas somente nas cores vermelho, branco, preto e amarelo. (com o claro objetivo de deixar-se confundir com um princípio de manifestação política de orientações claras);

2 – Nas bandeiras não poderá haver frase, palavra, letra ou grafia que indique um sentido de comunicação estabelecido previamente. A ideia é que as cores das bandeiras juntas já consigam comunicar e causar impacto suficiente;

3 – Você deve repassar esse convite a pessoas que você cogite algum interesse nessa empreitada. Mas, como em uma manifestação outra, não se poderá ter um controle sobre quem irá ou não comparecer ao evento, podendo ser muitos ou poucos (O mínimo desse encontro sou eu – e você?).

DIA: 29 de maio
HORÁRIO: 18 horas
LOCAL: Praça Mauá – diante da estátua do barão.

Deixei a bandeira com uma pessoa que sentia frio – e que mal conheço para além de seu primeiro nome – com o intuito de que cobrisse seu corpo. Possivelmente esta bandeira não mais será hasteada, o que me faz acreditar que, apesar de nossos desejos por bandeiras à vista, precisemos delas servindo como agasalhos que são; já que tessituras, podem se fazer junto às peles. Por pensar desta maneira, não pretendo mais hastear bandeira alguma. Descubro preferir arriá-las.

Fé e fogo

–x–

Bandeira:

André me convidou para confeccionar uma bandeira que, num dia a ser marcado, sairá em marcha, comigo a empunhando, junto com outras pessoas, cada uma com sua bandeira. Contudo, suas regras para a confecção da bandeira foram: que não fossem utilizadas letras; e que suas cores se limitassem ao preto, vermelho, amarelo e branco.

Falei para ele que gostaria de retornar a fazer coisas como se eu mesmo não as tivesse feito, através de uma ação questionável, ou patética, ou involuntária, ou.

Tendo esse desejo de fazer uma bandeira sem fazê-la, lembrei dos sudários; tecidos de linho que são utilizados para secar o suor dos corpos, ou embalá-los. E soube que é a bandeira de nº 2, que mede 1,30 m x 0,90 m, que é a que é carregada por alguém em marcha: a bandeira que mede o que um corpo deve levar.

Decidi comprar um tecido de linho branco de 1,30 m x 0,90 m e carregá-lo junto ao meu corpo, para secar o meu suor. E ter isto por bandeira.

(ininterruptamente)

VIVO

A

URGÊNCIA

DOS

DIAS

“O Sudário é um dos acheiropoieta (grego bizantino: “não feito pelas mãos”)“

 

Esta será uma bandeira que, tanto hasteada quanto arriada, terá por suporte o meu corpo.